sábado, 20 de março de 2010

Sobre livros e árvores de Natal


Estamos em um país de poucos leitores, onde o principal expoente do descaso à leitura é o próprio presidente. Mas isso não quer dizer que nosso país não tenha cultura e , muito menos, que não tenhamos pessoas inteligentes. Não é todo o mundo que não gosta de ler.

Poderíamos apontar como uma das causas da desmotivação da leitura em nosso país o preço dos livros. Tenho também como uma das causas para a não-leitura o tempo que o brasileiro passa trabalhando. Resta-lhe poucas horas em seu cotidiano para o lazer e ele prefere dedicar seu tempo a outras atividades, como o futebol, por exemplo. Nisso, todos sabem que somos imbatíveis.

Mas eu acho que poderíamos mudar esse quadro. Para tal, temos que começar com nossas crianças. Por isso me entristeço, como profissional das letras, quando vejo cenas de descaso com a leitura, tal qual a que presenciei como extencionista universitário no Natal do ano passado. Participava de um projeto que atuava em uma comunidade carente. No Natal deste ano que passou, as crianças dessa comunidade estavam destruindo livros antigos, dobrando as páginas ao meio e pintando-as de verde. Ao fim do trabalho, o livro ficava igualzinho a uma sanfona. Quase chorei. O pior foi uma colega que considero uma das mais críticas que tenho dizer que aquilo que eles faziam era arte.

Não considero destruir livros que, se não serviam mais para estudo nem consulta (algo de que jamais serei convencido), pelo menos serviria para recortar, para fazer trabalhos de pesquisa. O que seria destruir da mesma forma, mas seria uma destruição gradativa e que faria com que eles extraíssem o máximo possível o que os livros que estavam para ser sacrificados tinham a oferecer.

Quando perguntei o porquê de eles fazerem aquilo, a resposta foi: "Os livros são velhos!" Será que tudo que é velho tem que ser descartado? E os nossos idosos, pessoas que tem uma carga cultural e de conhecimento rica, devem ser exterminados e transformados em árvores de Natal?

Agora me pergunto: será que essas crianças vão chegar um dia a entender a importância de um livro para a constituição da moral de uma pessoa e para a documentação da cultura de um povo? Isso não sei, mas com certeza terão ou vão querer ter árvores de Natal em suas casas.

Não é só isso que me revolta. As poucas pessoas que lêem no Brasil, perdem seu tempo com autores como Paulo Coelho, Stephenie Meyer, J. K. Rowling (nem sei se esse é o nome dela mesmo, nunca li Harry Potter), Crônicas de Nárnia, auto-ajuda... Ninguém se preocupa com os clássicos, será que eles são tão velhos assim? Definitivamente não. La Fontaine é um autor do século XVI e continua sendo bastante atual, ele fala de vícios e virtudes humanas que ainda coexistem na sociedade de hoje!

E de que fala Paulo Coelho e Stephenie Meyer, os dois piores escritores do mundo, cujas obras se preocupam em atingir a cultura de massa, atendendo aos interesses mercadológicos? É difícil dizer, porque são obras (?) (obras?) contraditórias e que não tem coerência interna e enganam o leitor através de uma linguagem rápida e de efeito. Mas não tem conteúdo algum, dessa maneira, não atingem a academia, são malhados pela crítica literária e serão esquecidos tão rápido quanto atingiram o estrelato.

Para saber o porquê de obras como essas não terem valor lierário algum, eu aconselho ler o livro " Por que não ler Paulo Coelho..." de Janilto Andrade. Ele cita apenas O Alquimista como exemplo (até porque foi o único que, com muito esforço, ele conseguiu ler) mas serve para todos os Best-sellers sem conteúdo.

A prova de que Stephenie Meyer não é uma autora séria é, não só a proposta de seu Crepúsculo, mas também o fato de ela escrever uma saga pelo simples motivo de o primeiro livro ter feito sucesso. Vocês acham que Machado de Assis teria escrito a continuação de Dom Casmurro, por exemplo? Só porque percebeu que poderia ter um maior retorno comercial?

Bem, essa história da leitura no Brasil (e no mundo também) é bem delicada e deve ser bem discutida.

Eu tentei ler Meyer e Coelho, mais de uma vez, quis até ver o filme, mas é de um mal gosto tão contagiante que não se consegue passar mais de 30 minutos na presença de histórias tão mal escritas, tão mal elaboradas, tão cheias de frases de efeito e sem nenhum conteúdo consistente.

Queria ver Stephenie Meyer e Paulo Coelho no lugar daqueles livros destruídos por aquelas crianças inocentes, sendo transformados em árvore de Natal. Assim estaria fazendo jus a sua real serventia. A lata de lixo mais próxima quando o Natal passar.

Anderson Pereira.

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